Oasis no Pavilhão Atlântico
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Oasis no Pavilhão Atlântico [texto + fotos] | ||||||||
“Wonderwall” e “Don’t Look Back In Anger” foram momentos mais aplaudidos da noite, a par de declaração de amor de Noel Gallagher a José Mourinho. Saiba como correu o concerto. | ||||||||
Uma coisa são as canções, outra inesperadamente diferente é a banda. Se em Portugal qualquer pessoa minimamente atenta à música conhece os maiores êxitos dos Oasis, nunca se verificou propriamente um culto da personalidade em redor dos irmãos Gallagher.Em Portugal, se tivéssemos de teorizar, diríamos que vingam os vocalistas emotivos e elegantes (facção Tindersticks) ou politicamente engajados e conscientes (facção Pearl Jam); a opção deliberada pela “basófia”, arte na qual os Oasis se vêm especializando ao longo dos últimos 15 anos, não colhe grande entusiasmo.Basta pensar em José Mourinho – a quem Noel Gallagher rogou, ontem à noite no Pavilhão Atlântico, que voltasse a Inglaterra para treinar o seu Manchester City – e em como a sua popularidade e força icónica dispararam em flecha quando trocou Portugal pelo Reino Unido. Os ingleses – e havia bastantes, no concerto de Domingo à noite – adoram gente confiante e que faz gala disso. Os portugueses olham-nos com desconfiança, o que pode ajudar a explicar porque é que, apesar de uma casa bem composta, faltou à passagem dos Oasis pelo Pavilhão Atlântico algum calor humano.
Nas primeiras filas, onde abundavam cartazes de incentivo e bandeiras “híbridas” (Inglaterra e Portugal num só trapo de cor), o entusiasmo foi uma constante, ao longo da hora e meia que durou o concerto. Mas no resto do pavilhão, apenas os grandes clássicos dos Oasis – “Wonderwall”, “Dont’t Look Back In Anger” – levaram o povo a aclamar a banda e participar no espectáculo, cantando com gosto e afinação algumas das mais memoráveis cantigas dos ingleses. Exactamente às 21h00 – “pontualidade britânica” é um eufemismo – os Oasis entraram em palco, discretos mas estilosos nas suas fatiotas escuras. A liderar as tropas, Noel Gallagher, com uma camisa aos quadrados por baixo de um blusão de cabedal, e o seu irmão Liam, num belo casaco longo, napoleónico. As suas caras são levadas ao público mais distante do palco através dos ecrãs gigantes, num belo jogo de luzes e projecções que acompanhou com fidelidade todo o espectáculo. “Rock’n’Roll Star”, primeira música do primeiro álbum dos Oasis, serviu de abertura ao espectáculo e de declaração de interesses; seguiu-se a belíssima “Lyla”, lançada 11 anos depois e símbolo do recente rejuvenescimento da banda, com continuidade no novo Dig Out Your Soul . Nem de propósito, “Shock of the Lightning”, pujante primeiro single do álbum de 2008, foi a “senhora” que se seguiu, perante um público ainda meio adormecido. Com um som e uma imagem de primeira água, é difícil apontar o que quer que seja aos Oasis, na sua prestação de ontem à noite. A sua música foi granítica mas nunca excessivamente suja (“Cigarettes and Alcohol”); melódica, sobretudo quando guiada pela voz de Noel Gallagher (“The Importance of Being Idle”); simpaticamente psicadélica e especialmente convincente nos momentos mais rock. Não houve, por parte dos músicos, birras ou amuos (ainda se escutam, aqui e ali, os ecos da conturbada passagem pelo Sudoeste), e todo o espectáculo se pautou por um impressionante profissionalismo e muito “calo” nesta ciência de tocar ao vivo. Contudo, só a espaços o público mostrou estar a cem por cento com a banda. A sequência “The Importance of Being Idle” / “I’m Outta Time” / “Wonderwall” (com muitos dos sentados a abandonarem pela primeira vez os assentos de plástico) / “Supersonic” e “Don’t Look Back In Anger”, em que a plateia entoou na perfeição todo o refrão do êxito de 1995, ficará na memória dos presentes como um dos melhores momentos da noite. Na despedida, o novo single de Dig Out Your Soul – “Falling Down”, remate meio em jeito meio em força – casou às mil maravilhas com a superlativa “Champagne Supernova”, a brotar, suavemente, de um palco mergulhado na penumbra. Com os agradecimentos finais chegaram também os “créditos”, ou seja, a habitual vénia à grande fonte de inspiração dos Oasis, os Beatles. Há uns anos, era “Helter Skelter” a fechar os concertos, nesta noite de Domingo foi “I Am The Walrus”, numa versão musculada e mais uma vez acompanhada de fascinantes imagens nos ecrãs gigantes. Uma hora e meia depois do primeiro olá, os Oasis estavam despachados. Mas não abandonaram o palco do Pavilhão Atlântico sem agradecerem aos fidelíssimos admiradores das primeiras filas: Liam apontou para eles com ar de aprovação, e Noel foi mesmo o último a sair de palco – depois de Gem Archer, Andy Bell e Chris Sharrock – , demorando-se alguns minutos a aplaudir os fãs mais afoitos. O Atlântico percebeu o gesto e aprovou-o, com a última salva de palmas de uma noite ordeira e bem passada. ALINHAMENTO DOS OASIS NO PAVILHÃO ATLÂNTICO: Texto de: Lia Pereira |
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